sábado, setembro 12, 2009

Aos pais: Como ponho os meus filhos a ler?

Temos andado a falar em escola, contos, leitura e parece que já estou a ouvir alguns pais:
"O meu filho a ler? Isso é que era bom..."

Pois bem, se me permitem, e sem querer ser pretensioso, O Bichinho do Conto atrever-se-á a sugerir alguns pequenos "truques" aos pais que se esfalfam para que os seus filhos leiam e só deparam com desculpas, pretextos ou recusas categóricas.

As estratégias apresentadas a seguir não são da autoria do Bichinho do Conto, mas de peritos em psicologia, educação e pedagogia credenciados e devidamente identificados.

Querem ler?

Estratégias para pôr as suas crianças a ler: como, quando e porquê?

  • A leitura é importante para o desenvolvimento das crianças?
    Sem dúvida. é um pilar de aprendizagem essencial ao longo de toda a vida.Se o aperfeiçoamento da "competência de leitura" cabe à escola, a construção do "prazer da leitura" compete aos pais, defende a psicóloga comportamental Isabel Festas.
  • A partir de que idade?
    O mais cedo possível. "Uma das chaves do sucesso é a leitura antes da aprendizagem, a leitura feita pelo adulto". No entanto, não vale a pena tentar pôr os miúdos a ler antes dos primeiros anos de escolaridade, segundo opinião da mesma psicóloga.
  • Como podem os pais motivá-los?
    Primeiro, lendo-lhes histórias. Ao mesmo tempo, é preciso deixá-los folhear, brincar com o livro. Quando já sabem ler, é preferível optar pela leitura partilhada: "Ora lês tu, ora leio eu", como explica a psicóloga Dulce Gonçalves, e "depois ler ou confirmar quem adivinhou ou descobriu", fazendo-se da leitura um jogo, antecipando o final. Com os adolescentes, as regras são outras:"É preciso provocá-los, desafiá-los", os próprios pais têm que dar o exemplo. "Na infância aprendemos quase tudo por observação", conclui a psicóloga.
  • O que não devem os pais fazer?
    "O pior de tudo é dar a leitura como se fosse óleo de fígado de bacalhau", diz o pedopsiquiatra Eduardo Sá. Ou seja, não confundir prazer com tarefa escolar. Os pais "não devem ter a preocupação de avaliar o entendimento que a criança tem daquilo que leu", acrescenta Isabel Festas. Nem obrigar os filhos a ler obras que não lhes interessam, só porque são referências literárias. Importante é saber os interesses dos filhos e, a partir daí, seleccionar as leituras.
  • Existem livros desaconselhados?
    "Aqueles que pareçam repetitivos, monótonos, obrigatórios, com os quais não sentimos afinidades ou empatia", aconselha Dulce Gonçalves.

(Este conjunto de perguntas e respostas foi adaptado, com base em vários depoimentos dos especialistas Dulce Gonçalves, Isabel Festas e Eduardo Sá.

segunda-feira, setembro 07, 2009

A escola e o início das aulas

Pois é, meus amigos, aí está, de novo, a escola e, com ela, o fim das brincadeiras sem horário e da vida solta, sem grandes afazeres e compromissos.

E, claro que o Bichinho do Conto está atento a essa etapa e, até, um pouco ansioso pelo seu início, porque, como todos sabemos, há meninos e meninas que, durante as férias nem se aproximaram dos livros.

E, como já disse, é neles que eu vivo; e como podem saber que eu existo se não abriram, pelo menos, um livro?

Bom, mas isso tentaremos resolver depois.

Agora, O Bichinho pede-vos toda a atenção para o vídeo que vamos apresentar, cuja música, certamente, conhecem. Vamos ouvir?

A música é "A Fisga" e é cantada pelos Cabeças no Ar, em actuação ao vivo no Pavilhão Atlântico. A composição, letra e música, são da autoria de uma dupla também sobejamente conhecida nestas andanças: João Monge e João Gil.

E que tal, agora, tentar uma experiência?

Vou transcrever aqui a letra desta cantiga, só que com algumas falhas. Poderiam tentar preenchê-las, ouvindo "A Fisga" atentamente. Verão que "é canja"!

Depois...porque não? Cantem com eles!!

A Fisga

Trago a ***** no bolso de trás
E na pasta o ******* dos deveres.
Mestre-escola, eu sei lá se sou *****

De escolher o melhor dos dois *******.

Meu pai diz que o *** é que nos faz;
Minha *** manda-me ler a lição
******-****** eu sei lá se sou capaz,
Faz-me falta ouvir outra *******.

Eu até nem sequer sou *** rapaz,
Com maneiras até sou bem *******
Mestre-escola, ***** lá se for capaz,
P'ra que **** é que me **** ? P'ra que lado?

Trago a fisga no ***** de trás
E na ***** o caderno dos deveres.
Mestre-escola, eu *** lá se sou capaz
De escolher o ****** dos dois saberes.

João Monge / João Gil - Cabeças no ar

Fácil, não é?
Mas que terá esta cantiga a ver com a escola?

Deixem uma opinião, um comentário, se quiserem.

terça-feira, agosto 25, 2009

O saber de um conto - "A cidade dos Poços"


A Cidade dos Poços




Esta história representa para mim o símbolo da corrente que une as pessoas através da sabedoria dos contos.

Contou-ma uma paciente que a tinha ouvido, por sua vez, da boca de um ser maravilhoso, o padre crioulo Mamerto Menapace.

Assim como a reproduzo agora, ofereci-a uma noite a Marce e a Paula.

Jorge Bucay

Aquela cidade não era habitada por pessoas,

como todas as outras cidades do planeta.

Aquela cidade era habitada por poços.

Poços vivos... mas, afinal, poços.

Os poços distinguiam-se entre si não somente pelo

lugar onde estavam escavados, mas também pelo parapeito

(a abertura que os ligava ao exterior).

Havia poços ricos e ostensivos com parapeitos de mármore e metais preciosos;

poços humildes de tijolo e madeira,

e outros mais pobres, simples buracos rasos que se abriam na terra.

A comunicação entre os habitantes da cidade fazia-se de parapeito em parapeito, e as notícias corriam rapidamente de ponta a ponta do povoado.


Um dia, chegou à cidade uma «moda» que certamente

tinha nascido nalgum pequeno povoado humano.

A nova ideia assinalava que qualquer ser vivo que se prezasse

deveria cuidar muito mais do interior do que do exterior.

O importante não era o superficial, mas o conteúdo.

Foi assim que os poços começaram a encher-se de coisas.

Alguns enchiam-se de jóias, moedas de ouro e pedras preciosas.

Outros, mais práticos, encheram-se de electrodomésticos e aparelhos mecânicos.

Outros, ainda, optaram pela arte, e foram-se enchendo de pinturas,

pianos de cauda e sofisticadas esculturas pós-modernas.

Finalmente, os intelectuais encheram-se de livros, de manifestos ideológicos e de revistas especializadas.


O tempo passou.

A maioria dos poços encheu-se a tal ponto, que já não podia conter mais nada.

Os poços não eram todos iguais, por isso, embora alguns se tenham conformado, outros pensaram no que teriam de fazer para continuar a meter coisas no seu interior...


Um deles foi o primeiro. Em vez de apertar o conteúdo, lembrou-se de aumentar a sua capacidade, alargando-se.


Não passou muito tempo, até que a ideia começasse a ser imitada.

Todos os poços utilizavam grande parte das suas energias a alargar-se

para criarem mais espaço no seu interior.


Um poço, pequeno e afastado do centro da cidade,

começou a ver os seus colegas que se alargavam desmedidamente.

Ele pensou que se continuassem a alargar-se daquela maneira,

dentro em pouco confundir-se-iam os parapeitos dos vários poços

e cada um perderia a sua identidade...

Talvez a partir dessa ideia, ocorreu-lhe que outra maneira

de aumentar a sua capacidade seria crescer,

mas não em largura, antes em profundidade.

Fazer-se mais fundo, em vez de mais largo.

Depressa se deu conta de que tudo o que tinha dentro dele

lhe impedia a tarefa de aprofundar.

Se quisesse ser mais profundo, seria necessário esvaziar-se de todo o conteúdo...


A princípio teve medo do vazio.

Mas, quando viu que não havia outra possibilidade,

depressa meteu mãos à obra.

Vazio de posses, o poço começou a tornar-se profundo,

enquanto os outros se apoderavam das coisas

das quais ele se tinha despojado…


Um dia, algo surpreendeu o poço que crescia para dentro.

Dentro, muito no interior e muito no fundo...

encontrou água!


Nunca antes nenhum outro poço tinha encontrado água.

O poço venceu a sua surpresa e começou a brincar com

a água do fundo, humedecendo as suas paredes, salpicando o

seu parapeito e, por último, atirando a água para fora.


A cidade nunca tinha sido regada a não ser pela chuva,

que na verdade era bastante escassa. Por isso, a terra que

estava à volta do poço, revitalizada pela água, começou a

despertar.

As sementes das suas entranhas brotaram em forma de

erva, de trevos, de flores e de hastezinhas delicadas que

depois se transformaram em árvores...


A vida explodiu em cores à volta do poço afastado,

ao qual começaram a chamar «o Vergel».

Todos lhe perguntavam como tinha conseguido aquele milagre.

— Não é nenhum milagre — respondeu o Vergel. —

Deve procurar-se no interior, até ao fundo.

Muitos quiseram seguir o exemplo do Vergel,

mas aborreceram-se da ideia quando se deram conta de que,

para serem mais profundos, se tinham de esvaziar.

Continuaram a encher-se cada vez mais de coisas...

No outro extremo da cidade, outro poço decidiu correr também o risco

de se esvaziar...

E também começou a escavar...

E também chegou à água...

E também salpicou até ao exterior criando um segundo

oásis verde no povoado...

— Que vais fazer quando a água acabar? — perguntavam-lhe.

— Não sei o que se passará — respondia ele. — Mas, por agora,

quanto mais água tiro, mais água há.


Passaram-se uns meses antes da grande descoberta.

Um dia, quase por acaso, os dois poços deram-se conta de que a água

que tinham encontrado no fundo de si próprios era a mesma...

Que o mesmo rio subterrâneo que passava por um

inundava a profundidade do outro.

Deram-se conta de que se abria para eles uma vida nova.

Não somente podiam comunicar um com o outro de parapeito em parapeito,

superficialmente, como todos os outros, mas a busca

também os tinha feito descobrir um novo e secreto ponto de contacto.


Tinham descoberto a comunicação profunda,

que somente conseguem aqueles que têm a coragem

de se esvaziar de conteúdos e procurar no fundo do seu ser

o que têm para dar...

Jorge Bucay

Contos para pensar

Cascais, Editora Pergaminho, 2004

Depois da leitura deste conto, gostarias de deixar um comentário sobre a sua mensagem?


terça-feira, julho 28, 2009

Os Direitos do leitor

Gostar de ler... é obrigatório?

Daniel Pennac é, actualmente, considerado um dos mais importantes e populares autores da literatura francesa.
Nasceu em Casablanca, Marrocos, em 1944, estudou em Nice e foi professor. Escreveu várias obras para crianças, jovens e adultos, que são conhecidas em todo o mundo e estão traduzidas em mais de 30 línguas.
Um dos seus livros mais conhecidos é "O olho do lobo".
É Daniel Pennac o autor do "documento" que se segue.

Os Direitos Inalienáveis do Leitor:

1-O direito de não ler.
2-O direito de saltar páginas.
3-O direito de não acabar um livro.
4-O direito de reler.
5-O direito de ler não importa o quê.
6-O direito de amar os “heróis” dos romances.
7-O direito de ler não importa onde.
8-O direito de saltar de livro em livro.
9-O direito de ler em voz alta.
10-O direito de não falar do que se leu.

Daniel Pennac, Como um Romance, Ed. ASA, 1992

Que pensas desta lista de direitos? Concordas com todos eles? Gostarias de acrescentar algum? E quanto a deveres, quais serão os deveres do leitor?

Gostaria de saber a tua opinião.

O Bichinho apresenta-se

Olá amigos
Permitam-me que eu, Bichinho do Conto, me apresente:

Sou um gaiato pequeno em tamanho, mas sei que já é de família e, além disso,
valho tanto quanto os de grandes dimensões, ora essa!
Sou traquinetas e rabino, uuuui, se sou!!... Dizem que não paro um segundo,
com esta coceira nas patas que me obriga a meter o, com perdão da palavra, focinho, em qualquer livro que se atravesse no meu caminho.

Praticamente desde que nasci, há uns longos 10 dias, que estou encarregado de uma missão muito nobre e honrosa: sou leitor, cuidador, consultor e espero um dia vir a ser escritor.
Gosto de livros de todos os géneros , mas, para ser sincero, perco a cabeça com livros de contos.
Adoro ler um bom conto, feito uma bolinha, todo enroladinho, às vezes a baloiçar-me suavemente, outras de modo frenético, conforme o ritmo da história.

Ah, ainda não disse onde vivo... Pois é, essa é a parte estranha: o nosso habitat, o de toda a nossa espécie, é dentro das pessoas.
Se elas dão conta que lá estamos? Bem, isso é relativo....
Normalmente, o que acontece é elas sentirem a minha coceira, a minha inquietação, e terem que me seguir nestes encontro com os contos. Podem estranhar ao princípio, mas logo são elas que puxam por mim e nem sequer admitem a hipótese que eu as possa abandonar.

E, já que estamos neste ponto, não gostariam que eu vos apresentasse a uns amigos fixes como eu, que estão a precisar urgentemente de habitação?

Vão tentar?!.... Uauuu, que fantástico, vou já chamá-los.
Um último pedido: recebam-nos bem, deem um tempo para se adaptarem uns aos outros, valeu?

Adoptem o Bichinho do Conto!!!!